quinta-feira, 21 de maio de 2015

O ESPÍRITO DO FOGO


Imagem do Blogue “GCN


O ESPÍRITO DO FOGO


O FOGO que alimenta o COMPANHEIRISMO

Desde tempos imemoriais que o Homem, primeiro, teve um temor reverencial pelo fogo, posteriormente, controlou-o e esse controlo contribuiu para o desenvolvimento da civilização.

As civilizações primitivas usaram o fogo, inicialmente para afastar o negrume da noite (e os temores que o invisível escondia), depois para afastarem os animais selvagens e para se protegerem das noites frias. Ao longo da história da humanidade e até aos nossos dias o fogo veio tendo outras aplicações, podendo-se, com a convicção que a evidência demonstra, afirmar que sem o fogo poderíamos não ter chegado ao estágio civilizacional em que nos encontramos.

Mesmo em termos religiosos é aceite que o fogo pode contribuir para actos de purificação ou de castigo. O fogo ou é um amigo ou um poderoso inimigo. O fogo é encarado como um símbolo, roubado aos deuses segundo a mitologia, com origem em poderes superiores e em forças ocultas.

A necessidade de sobrevivência perante uma natureza hostil obrigou o Homem a viver em sociedade e, nómadas ou sedentários, os homens após regressarem das caçadas ou dos campos, juntavam-se em redor do fogo para comerem, falarem das actividades desse dia, contarem histórias e experiências e partilharem, antes de adormecerem junto à fogueira, os sonhos de uma vida melhor.

Esses hábitos adquiridos ao longo de milhares e milhares de anos foram sendo perpetuados, embora de formas diferentes, nas aldeias, nas cidades, através dos colectivos familiares, sentados à volta da lareira. Não obstante a existência de aquecedores eléctricos ou a gaz verifica-se que em muitas casas a lareira é uma peça, tantas vezes só ornamental, mas que alguns desejam ter porque só assim sentem um verdadeiro conforto interior.

Poder-se-á dizer que à noite o fogo protege, alimenta o espirito e contribui para que os homens comunguem de um mesmo espirito de companheirismo. O mesmo companheirismo sem o qual não teriam, nos tempos difíceis dos inícios do mundo, sobrevivido enquanto espécie.


O FOGO e o sentir das ORIGENS

O Homem moderno, nomeadamente aquele que vive em médias e grandes urbes, sente periodicamente o desejo de regressar às origens, ao seio de uma natureza mais selvagem e, assim, sair da rotina e libertar-se de algumas convenções sociais que a vida citadina impõe. Desse desejo nasce também o campismo moderno.

Sendo o Homem um ser eminentemente social também o campismo é praticado, normalmente, em grupo. O campismo associativo, com múltiplas actividades praticadas ao ar livre, com tantas emoções fortes que excitam, com passeios, com risos, gargalhadas, alegrias, ao fim de um dia, em que o cansaço convida ao descanso, sente-se, ao anoitecer, a nostalgia e a necessidade de um convívio sereno, com as estrelas por teto, com todo o grupo à volta de uma fogueira, cujas chamas bruxuleantes, aqui e ali, quebram o negrume da noite e iluminam ténues as faces dos participantes.

É o “Fogo de Campo”.


O FOGO e a TRADIÇÃO

O “Fogo de Campo” que reconstitui uma tradição com milhares de anos, praticada pelos nossos mais ancestrais antepassados.

É também na continuação dessa tradição milenar que, depois de jantar, muitas e muitas famílias, junto às lareiras ou em frente á televisão (a fogueira dos tempos modernos) relaxam, trocam alguns dedos de conversa, fazem balanços e se preparam para um novo dia.

É este acalmar da excitação de um dia pleno, em que se procura repousar colectivamente os espíritos e comunicar mutuamente através de uns momentos mais suaves de um são e alegre convívio, que o "Fogo de Campo" vem proporcionar. Não se trata de um espectáculo, em que uns representam para gáudio de uma maioria. Nessa verdadeira comunhão cada um é participante, para que quando a fogueira se extinguir, a noite prevalecer sobre a luz das chamas e o silêncio cair, cada um adormeça irmanado de paz e de um interiorizado sentimento do significado intrínseco da palavra Companheiro.


O FOGO no IMAGINÁRIO autocaravanista

As alterações sociais e tecnológicas, que alteraram igualmente os comportamentos humanos, deram novas formas ao “Fogo de Campo” que, curiosamente, coexistem ainda com as antigas manifestações. Embora com o mesmo simbolismo o Homem traz para o conforto das casas o “Fogo de Campo”. São sucedâneos do “Fogo de Campo” as lareiras eléctricas e é a vela colocada sobre a mesa onde, em redor, se alimenta o corpo e o espirito através do convívio. Um “Fogo de Campo” diferente, adaptado às circunstâncias, mas onde se sente o mesmo espirito que desde há milhares de anos junta o Homem em redor do Fogo.

Em redor dessas novas formas de “Fogo de Campo”, mas com manifestações idênticas, se juntam os autocaravanistas nos seus Encontros. Em pequenos grupos, escondidos entre duas ou três autocaravanas ou em grandes grupos, numa qualquer sala de um qualquer restaurante. Realce-se que nesses Encontros Autocaravanistas não é utilizado o conceito de “jantar com espectáculo”, mas, sempre, “jantar com animação”. O espirito é de comunhão, de participação, em torno de um “Fogo de Campo”, mesmo que só existente no imaginário de cada um.


O FOGO que UNE os autocaravanistas

Compreender que a satisfação das necessidades espirituais do Homem primitivo continua actual e, embora em formatos diferentes, expressa-se muito em redor do calor, real ou simbólico, que nos transmite o “Fogo de Campo”, é assumir que o autocaravanismo expresso essencialmente na vertente turística não é TOTALMENTE independente do autocaravanismo entendido como uma actividade campista o que é uma evidência para os que reflectem e se preocupam com esta modalidade.

Esta compreensão das origens do “Fogo de Campo”, não obstante as alterações de formato que as circunstâncias justificam, pode ser mais um dos motivos porque a “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA” e a “Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal” reconhecem o autocaravanismo nas suas diferentes vertentes e que o vêm expressando publicamente. Um exemplo a seguir.


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) –  AQUI).



ESCLARECIMENTO


No período compreendido entre 1 de Junho e 30 de Setembro de 2015 a habitual “Opinião das Quintas-feiras” fica suspensa.

Nas páginas do Facebook, no mesmo período, não serão colocados “postes”.

O Blogue “Papa Léguas Portugal AUTOCARAVANISMO” continuará, sem interrupção, a produzir informação diária.

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