DE TARDE
(Naquele “pic-nic” de
burguesas)
Naquele “pic-nic” de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico
Foste colher, sem imposturas tolas
A um granzoal azul de grão de bic
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos
Nós acampámos, indo o sol se via
E houve talhadas de melão, damasco
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da rend
Dos teus dois seios como duas rolas
Era o supremo encanto da merenda
O
ramalhete rubro das papoulas!
(Cesário Verde – 1855-1886)
José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25
de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um
poeta português,
sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no
século XX.
Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Azul e de
Maria da Piedade dos Santos Amarelo, Cesário matriculou-se no Curso Superior de
Letras em 1873,
mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu
amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas
em jornais, destacando-se a revista Branco
e Negro 1896-1898) e as actividades de comerciante herdadas do pai.
Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já
lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus
principais poemas,Nós (1884).
Tenta curar-se da tuberculose,
mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte
Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da
sua poesia publicada em 1901.
No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas
impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que
são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se
de uma forma mais natural.
Fonte: Wikipédia
– A enciclopédia livre
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