MORENA
Não
negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De
todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
(Guerra Junqueiro – 1850-1923)
Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 17 de
setembro de 1850 — Lisboa, 7 de julho de 1923) foi bacharel
formado em direito pela
Universidade de Coimbra, alto funcionário
administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta . Foi o
poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada
"Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou a criar o
ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. Foi entre
1911 e 1914 o embaixador de Portugal na Suíça (o título era "ministro de
Portugal na Suíça").
Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 17 de
Setembro de 1850, filho do negociante e lavrador abastado José António
Junqueiro e de sua mulher D. Ana Guerra. A mãe faleceu quando Guerra Junqueiro
contava apenas 3 anos de idade.
Estudou os preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de
Teologia da Universidade de Coimbra. Compreendendo que
não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois transferiu-se para o
curso de Direito. Terminou o curso em 1873.
Entrando no funcionalismo público da época, foi
secretário-geral do Governador Civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana
do Castelo.
Em 1878, foi eleito deputado pelo
círculo eleitoral de Macedo de Cavaleiros.
Guerra Junqueiro desde muito novo começou a manifestar
notável talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais
esperançosos da nova geração de poetas portugueses. No mesmo ano, no opúsculo
intitulado "O Aristarco português", apreciando-se o livro "Vozes
sem eco", publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, já se
prognostica um futuro auspicioso ao seu autor.
No Porto, na mesma data, aparecia outra obra, "Baptismo de
amor", acompanhada dum preâmbulo escrito por Camilo Castelo Branco; em Coimbra publicara
Guerra Junqueiro a "Lira dos catorze anos", volume de poesias; e
em 1867 o
poemeto "Mysticae nuptiae"; no Porto a casa Chardron editara-lhe
em 1870 a
"Vitória da França", que depois reeditou em Coimbra em 1873.
Em 1873, sendo proclamada a República em Espanha, escreveu
ainda nesse ano o veemente poemeto "À Espanha livre".
Em 1874 apareceu o poema "A morte de D. João",
edição feita pela casa Moré, do Porto, obra que alcançou grande sucesso. Camilo Castelo Branco consagrou-lhe um
artigo nas Noites de insónia, e Oliveira
Martins, na revista "Artes e Letras".
Indo residir para Lisboa foi
colaborador em prosa e em verso, de jornais políticos e artísticos, como a
"Lanterna Mágica", com a colaboração de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro. Em 1875 escreveu o
"Crime", poemeto a propósito do assassínio do alferes Palma de Brito;
a poesia "Aos Veteranos da Liberdade"; e o volume de "Contos
para a infância". No "Diário de Notícias" também publicou o
poemeto Fiel e o conto Na Feira da Ladra. Em 1878 publicou em Lisboa
o poemeto Tragédia infantil. Colaborou em diversas publicações periódicas,
nomeadamente: Atlantida (1915-1920), Branco e Negro (1896-1898), A Ilustração
Portugueza (1884-1890), A imprensa (1885-1891), Jornal do domingo (1881-1888),
A Leitura (1894-1896), A mulher (1879), A Republica Portugueza (1910-1911), e
Serões (1901-1911)
Uma grande parte das composições poéticas de Guerra
Junqueiro está reunida no volume que tem por título A musa em férias,
publicado em 1879. Neste ano também saiu o poemeto O Melro, que depois foi
incluído na Velhice do Padre Eterno, edição de 1885. Publicou Idílios
e Sátiras, e traduziu e colecionou um volume de contos de Hans Christian Andersen e outros.
Após uma estada em Paris, aparentemente para tratamento de doença
digestiva contraída durante a sua estada nos Açores,
publicou em 1885 no
Porto A velhice do Padre Eterno, obra que provocou acerbas réplicas por
parte da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo
cónego José Joaquim de Sena Freitas.
Quando se deu o conflito com a Inglaterra sobre
o "mapa cor-de-rosa", que culminou com o ultimato britânico de 11 de
Janeiro de 1890, Guerra Junqueiro interessou-se profundamente por esta
crise nacional, e escreveu o opúsculo Finis Patriae, e a Canção do
Ódio, para a qual Miguel Ângelo Pereira escreveu a música.
Posteriormente publicou o poema Pátria. Estas composições tiveram uma
imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das
instituições monárquicas.
Fonte: Wikipédia
– A enciclopédia livre
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