CARTA A ÂNGELA
Para
ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver.
Os abismos das coisas, quem os nega,
se em nós abertos inda em nós persistem?
Quantas vezes os versos que te dou
na água dos teus olhos é que existem!
Quantas vezes chorando te alcancei
e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!
Mais humana da terra dos caminhos
e mais certa, dos erros cometidos,
foste de novo, e sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.
Transpondo os versos vieste à minha vida
e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!
(Carlos
de Oliveira – 1921-1981)
Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de
agosto de 1921 — Lisboa, 1 de julho de 1981) foi um escritor português.
Nascido no Brasil, filho de imigrantes portugueses, veio aos dois
anos para Portugal.
A família fixa-se em Cantanhede, mais precisamente na vila
de Febres,
onde o pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, onde
permanece durante quinze anos, a fim de prosseguir os estudos. Em 1941 ingressa
na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, onde estabelece amizade com Joaquim
Namorado, João Cochofel e Fernando
Namora. Em 1947 licencia-se
em Ciências Histórico-Filosóficas, instalando-se definitivamente em Lisboa, no ano
seguinte. Periodicamente volta a Coimbra e à Gândara.
Em 1949 casa-se
com Ângela, jovem madeirense que conhecera nos bancos da Faculdade, sua
companheira e futura colaboradora permanente.
Data de 1942 o seu primeiro livro de poemas, intitulado
"Turismo", com ilustrações de Fernando Namora e integrado na colecção
poética de 10 volumes do "Novo Cancioneiro", iniciativa colectiva
que, em Coimbra, assinalava o advento do movimento neo-realista. Porém,
em 1937, já
publicara em conjunto com Fernando
Namora e Artur Varela, amigos de juventude,
um pequeno livro de contos "Cabeças de Barro". Em 1943 publica o seu
primeiro romance, "Casa na Duna", segundo volume da colecção
dos Novos Prosadores (1943),
editado pela Coimbra Editora. No ano de1944 surge o
romance "Alcateia", que viria a ser apreendido pelo regime. No
entanto é desse mesmo ano a segunda edição de "Casa na Duna".
Em 1945 publica um novo livro de poesias, "Mãe
Pobre". Os anos seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos
quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um novo
humanismo, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice, além da colaboração no livro de Fernando Lopes Graça "Marchas,
Danças e Canções", uma antologia de vários poetas, musicadas pelo maestro.
Em 1953 publica "Uma Abelha na Chuva", o seu quarto romance
e, unanimemente reconhecido, uma das mais importantes obras da literatura
portuguesa do século XX,
tendo sido integrado no programa da disciplina de português no ensino
secundário.
Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, os Contos Tradicionais
Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.
Em 1968 publica dois novos livros de poesia, "Sobre o
Lado Esquerdo" e "Micropaisagem", e colabora com Fernando
Lopes na adaptação de "Uma Abelha na Chuva". Em 1971 sai "O
Aprendiz de Feiticeiro", colectânea de crónicas e artigos, e "Entre
Duas Memórias", livro de poemas, que lhe vale o Prémio da Casa da
Imprensa.
Em 1976 reúne toda a sua poesia em dois volumes, sob o título
de "Trabalho Poético", juntando aos seus poemas anteriores, os
inéditos reunidos em "Pastoral", publicado autonomamente no ano
seguinte.
O seu último romance, "Finisterra", sai em 1978, tendo como fundo
a paisagem gandaresa. A obra proporciona-lhe o Prémio Cidade de Lisboa,
no ano seguinte.
Morre na sua casa em Lisboa, com 60 anos incompletos.
Fonte: Wikipédia –
A enciclopédia livre
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