URGENTEMENTE
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
(Eugénio de Andrade – 1923-2005)
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de
Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005) foi um poeta português.
O poeta nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de
Janeiro de 1923. Fixou-se em Lisboa aos dez
anos, com a mãe, que entretanto se separara do pai.
Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica
Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos
quais, intitulado Narciso, publicou três anos mais tarde.
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde
regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel
Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante
35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de
serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só
deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da
extinta Fundação Eugénio de
Andrade, na Foz do Douro.
Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas
viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com
muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel
Serrão, Miguel Torga, Afonso
Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim
Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge
de Sena, Mário Cesariny, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luis
Cernuda, Jaime Montestrela, Marguerite Yourcenar, Herberto
Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar
Lopes, e muitos outros.
Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional,
Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária
ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com
«essa debilidade do coração que é a amizade».
Recebeu um sem número de distinções, entre as quais o Prémio
da Associação
Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis da
Fundação Casa de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores
(1989) e Prémio Camões (2001). A 8 de Julho de 1982 foi
feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada e a 4 de Fevereiro de 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz
da Ordem do Mérito.
Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após
uma doença neurológica prolongada.
Estreou-se em 1939 com a obra Narciso, torna-se mais
conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente. A sua consagração
acontece em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os
aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de
Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José
Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma
depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na
poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras
interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria
Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da
paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do
lume (1998).
Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto
precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias
infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as
outras (1986).
Foi também tradutor de algumas obras, como dos
espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega
clássica Safo (Poemas
e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e
do argentino Jorge Luís Borges.
Em Setembro de 2003 a sua obra Os sulcos da
sede foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube Português.
Fonte: Wikipédia –
A enciclopédia livre
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