Foto de AVENTAR
Projecto de Sucessão
Continuar aos
saltos até ultrapassar a Lua
continuar
deitado até se destruir a cama
permanecer de
pé até a polícia vir
permanecer
sentado até que o pai morra
Arrancar os cabelos
e não morrer numa rua solitária
amar
continuamente a posição vertical
e
continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da
janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em
casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos
no café até espantar a clientela
pregar sustos
nas esquinas até que uma velhinha caia
contar
histórias obscenas uma noite em família
narrar um
crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo
de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar
um cigarro só até meio
Abrirem-se
covas e esquecerem-se os dias
beber-se por
um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria Lisboa (Lisboa, 1 de Agosto
de 1928 — Lisboa, 11 de
Novembro de 1953)
foi um poeta português.
Apesar da sua evidente preferência pelas artes e letras, foi
obrigado pelo pai a frequentar o Ensino Técnico, que detestava. A partir de 1947 forma, com Pedro Oom e
Henrique Risques Pereira, um pequeno grupo à parte das
actividades dos surrealistas, adoptando uma postura inconformista diante da
transformação do surrealismo numa escola, no que acabaria por conduzir ao abjeccionismo,
termo em que convergem os princípios da estética surrealista e uma postura
poética de «insubmissão permanente ante os conceitos, regras e princípios
estabelecidos». Em Março de 1949, parte para Paris, onde permanece por dois meses. Datam provavelmente dessa
curta estada os seus primeiros contactos com o Hinduísmo,
a Egiptologia,
e o Ocultismo
em geral. Escreveu Erro Próprio (1950), o principal manifesto do surrealismo português, e foi
redactor de Afixação Proibida, em colaboração com Mário
Cesariny, amigo que o acompanhou até aos últimos dias de vida. Atormentado
por dificuldades existenciais, morreu de tuberculose com apenas vinte e cinco
anos.
Ainda que inserida no surrealismo, a obra de António Maria
Lisboa (em parte publicada postumamente por Luiz
Pacheco na editora Contraponto) caracteriza-se por uma faceta ocultista e
esotérica que a torna muito particular. Lisboa prefere intitular-se
«metacientista», e não surrealista, porque, como argumenta numa carta a Mário
Cesariny, a «Surrealidade não é só do Surrealismo, o Surreal é do Poeta de
todos os tempos, de todos os grandes poetas». Em 1977 foi publicado um
volume com a sua obra completa organizado por Cesariny. Na introdução, este
salientou não só o facto de a destruição dos manuscritos operada por familiares
do poeta constituir uma perda irreparável para a história do surrealismo
português, como o facto de a sua morte prematura parecer encimar um itinerário
fulgurante ao longo do qual poesia e vida constituíram uma unidade
indissolúvel. Escreveu ainda acerca de António Maria o seguinte: Preocupado com uma verdadeira aproximação às
culturas exteriores à tão celebrada civilização ocidental, há na sua poesia uma
busca incessante de um futuro tão antigo como o passado. Pode, e decerto deve,
ser considerado o mais importante poeta surrealista português, pela densidade
da sua afirmação e na direcção desconhecida para que aponta.
Obras
- Afixação Proibida (1949);
- Erro Próprio (1950);
- Ossóptico (1952);
- Isso Ontem Único (Lisboa, 1953);
- A Verticalidade e a Chave (Lisboa, 1956);
- Exercícios sobre o Sonho e a Vigília de Alfred Jarry seguido de O Senhor Cágado e o Menino (Lisboa, 1958);
- Uma Carta: Estrela da Ilha em Puros Ministros (Lisboa, 1958)
- Poesia de António Maria Lisboa (org. Mário Cesariny, Lisboa, 1962)
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
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