SURPREENDIDO e ASSUSTADO
Na quadra natalícia (não sei se acontece com todos)
sentimo-nos mais permeáveis à nostalgia, recordamos os amigos, os familiares
que estão longe ou que já morreram. Curioso: ia dizer já nos deixaram, em vez
de já morreram… Os psicólogos certamente terão uma explicação muito racional!
É com esta amálgama de sentimentos e sensações que me sentei
e fui folheando livros, revistas, escritos antigos e olhando de tempos a
tempos, através dos vidros da janela, a única árvore existente num terreno descampado
sob um céu plúmbeo. Devia haver alguma música a tocar, mas não me recordo qual,
pois de repente quedei-me a ler e recordar um editorial publicado na Revista “O
Autocaravanista” de Agosto de 2012.
Fiquei surpreendido e assustado com o que lia.
Surpreendido porque passados mais que dois anos, aquele
editorial era de uma impressionante actualidade. Tão actual que podia ter sido
escrito hoje.
Assustado porque passados mais que dois anos, aquele
editorial era a prova de que no essencial os problemas inerentes ao
autocaravanismo se mantinham inalteráveis.
Aqui fica, para que o leiam, o Editorial que me surpreendeu
e assustou, na esperança que no final do novo ano em que estamos a entrar já não
tenha que escrever este desabafo.
A PRETO e BRANCO
“Imaginar o mundo a preto e branco, com pessoas, etnias,
países, associações e sabe-se lá que mais, numa dicotomia do bom e do mau, para
além de irreal, deve ser extremamente cansativo.
Dividir os autocaravanistas em bons e maus consoante as
preferências que têm na prática consciente e responsável do autocaravanismo e
nas opções que fazem pelas associações em que se integram, não só é irreal e
cansativo como, também, é doentio.
Defender e preconizar apenas e exclusivamente uma única
vertente do autocaravanismo é marginalizar os que se não revêm nessa prática e
assumir de forma redutora o ideal autocaravanista.
Uma associação
verdadeiramente autocaravanista é aquela que se preocupa e defende TODOS os
autocaravanistas, em todas as vertentes do autocaravanismo, através da procura
constante do equilíbrio no seio do Movimento Autocaravanista de Portugal.
É na defesa de todos os autocaravanistas, desde pelo menos
Maio de 2010 com a subscrição da Declaração de Princípios da Plataforma de
Unidade, que consideramos a luta contra a discriminação negativa como a questão
mais relevante que pode e deve unir os autocaravanistas.
Por ignorância ou demagogia, mais uma vez a preto e branco,
os defensores de uma única vertente do autocaravanismo apontam os parques de
campismo como responsáveis pela discriminação negativa dos autocaravanistas, escamoteando
que existem diferentes “tipos” de parques (privados, municipais, associativos…)
com objetivos e posturas distintas, onde podemos eventualmente encontrar
parceiros.
O radicalismo a preto e branco não é apanágio de um CPA
moderno, democrático e eficiente, virado para a construção de um futuro que
defenda e beneficie todos autocaravanistas.
Há muito que vimos dizendo que a prática do autocaravanismo
é, em si mesma, um nicho de mercado muito apetecível que envolve muitos e
muitos milhares de euros e, por isso mesmo, há muito que se nos afigura que a discriminação
negativa do autocaravanismo é uma questão primordialmente politica que tem que
ser resolvida nesse âmbito.
Somente através da consciência política dos
autocaravanistas, unidos, sabendo o que querem e disponíveis para lutarem, é
que se poderá avançar para uma Lei em que os interesses económicos se não
venham a sobrepor às liberdades da prática do autocaravanismo e que seja feita
com e para todos os autocaravanistas.
Estarão os autocaravanistas suficientemente unidos, conscientes do que
querem e com força e disponibilidade para lutarem e conseguirem uma Lei em que
os interesses económicos se não venham a sobrepor às liberdades da prática do
autocaravanismo?
Pressupor que existem condições para se abrir a caixa de
pandora de leis que regulem um mercado de milhares de euros a favor dos
autocaravanistas é estultícia, é ingenuidade, é irresponsabilidade.
Não queiramos ser nós autocaravanistas a abrir as portas a
Leis que impeçam as autocaravanas de estacionar na via pública por períodos
superiores a 48 horas como esteve quase para acontecer em 2009 com o Projeto
Lei 778/X.
Nem tudo pode ser a preto e branco. Há mais cores.”
Origem: O Autocaravanista
(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do
Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o
autocaravanismo (e não só) – AQUI)
Mais uma vez se comprova que esta gente não pretende nada mais que surgir em notícias de imprensa ao invés de defender efectivamente o Autocaravanismo Itinerante.
ResponderEliminarPassadas décadas, e apesar dos imensos "clubes" surgidos, de bairro, de rua e de garagem, e até de certas "coisas" que se auto intitulam únicas representantes da "causa", tudo continua na mesma e a única ambição não passa de surgir numa qualquer notíciazeca numa qualquer imprensa.
A busca do protagonismo e da auto-promoção delega para um plano terciário, não apenas secundário, a causa autocaravanista.
Assim continuará por mais umas décadas, enquanto esse tipo de gente não deixar de buscar no meio Autocaravanista um meio de se auto promover e passar a defender de facto e apenas o Autocaravanismo Itinirante.
Minha opinimão!
Um abraço e até sempre,
José Gonçalves
(Guimarães)