No Limite da Dor
A revolução do 25 de abril de 1974, única pelas
características e forma como decorreu, extinguiu a polícia política e expurgou
a penalização, entre outras, do delito de opinião da legislação portuguesa.
Em Portugal, no decorrer do chamado “Estado Novo” governado pelo ditador antónio salazar e
posteriormente por marcelo caetano, a tortura foi também uma das armas (a par
da censura) usada para tentar submeter o povo português.
Talvez para que “Não apaguem a memória” (ver AQUI) está
a ser divulgado um programa sobre a tortura intitulado “No Limite da Dor” (ver
e ouvir AQUI).
"No Limite da Dor" é
uma série de programas com testemunhos de vários ex-presos políticos que foram
torturados pela PIDE e submetidos a todo o tipo de torturas: espancamentos
muito violentos, privação do sono, isolamento, chantagem emocional.
Todos, cada um à sua maneira, queriam um país livre e melhor.
Alguns nunca prestaram declarações à polícia política, outros acabaram por falar quer em nomes de outros companheiros, quer sobre a organização a que pertenciam.
Nas conversas com Ana Aranha, estes homens e mulheres vão ao fundo dessas memórias, um exercício nem sempre fácil e por vezes doloroso.
Falam dos sofrimentos, dos medos, mas também da coragem que sentiram na época e da forma como têm vivido e convivido com esta parte do seu passado.”
Estes extraordinários testemunhos de ex-presos políticos
torturados pela PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) são
comentados e complementados com textos, fotos e fotocópias de documentos da
época no Blogue “No Limite da Dor” (ver AQUI)
Baseado neste programa homónimo da Antena 1 estará
disponível a partir do próximo dia 16 de abril um livro da autoria de Ana
Aranha e Carlos Ademar, com prefácio de Irene Flunser Pimentel e posfácio de
Mário de Carvalho.
Não será despiciente também a leitura do livro “A Confiança
no Mundo - Sobre a tortura em democracia”, de José Sócrates, pois, segundo o
prefácio de Luiz Inácio Lula da Silva (ex-Presidente do Brasil), “Neste livro, José Sócrates desenvolve sua análise a
partir de três abordagens complementares. Desfila a argumentação pelos canais
da História, aborda os aspectos éticos da questão e acentua os danos que a
prática da tortura acarreta às próprias instituições democráticas. Consegue
desmontar, pedra por pedra, de forma convincente, todas as falácias a respeito
da admissão do emprego da tortura em casos excepcionais, ou condicionada à
limitação de sua intensidade e duração, ou ainda reservada exclusivamente aos
episódios — sempre imaginários — em que um artefato nuclear está prestes a
explodir, ou centenas de crianças estão reunidas num cinema que somente o
terrorista imaginário pode confessar, se pressionado pela dor.».
Da leitura do livro o que sobressai é a resposta à questão
de saber se em democracia se justifica o uso da tortura, não fora da lei, mas
num quadro de exceção, dentro da lei, o que só por si justifica esta leitura.
Quanto a mim, quem queira, no momento político em que nos
encontramos, adquirir suporte que lhe permita combater as novas formas de
ditadura impostas pelos chamados eufemisticamente mercados, não deve, nem pode,
deixar de aceder, entre outras, à informação atrás referida.
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