segunda-feira, 14 de abril de 2014

Poesia de... Bocage (III)



Camões, Grande Camões, quão Semelhante
(A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios)


Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

(Bocage – 1765-1805)




“Bocage é um dos mais importantes poetas de Portugal, formando com Luís Vaz de Camões e Antero de Quental a Santíssima Trindade da poesia lusitana. Se incluirmos Fernando Pessoa, seriam o Quarteto Fantástico da poesia portuguesa. Inclusive, não raro nos deparamos com comparações entre Bocage e Camões, tanto pela importância de ambos na literatura portuguesa quanto por semelhanças entre a vida dos dois poetas. Muitos dos acontecimentos da vida de Bocage guardam semelhanças com situações que ocorreram com Camões. Porém, é necessária alguma cautela ao examinarmos esses acontecimentos, já que na vida dos dois poetas fatos biográficos e mito não raro se confundem.
  
Bocage é um confesso admirador de Camões, com quem se compara nas desventuras da vida, mas reconhece-se um poeta “inferior” ao mestre, (…)”

Fonte: Vulgívaga


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