segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Poesia de… Fernando Assis Pacheco



Pedro Só

Passaram anos e anos 
sobre esta roda da vida, 
farinha que foi moída, 
vai-se a ver, são desenganos
Atou-me a sorte este nó, 
cobriu-me com estes panos. 
Ao peso dos meus enganos 
sai a farinha da mó.
Na palma da mão estendida 
leio um caminho de pó 
lembranças do homem só 
São as andanças da vida
Foram dias, foram anos, 
foi uma sorte moída, 
vida que tenho vivida, 
(vai-se a ver são desenganos [bis]
Foram dias, foram anos, 
for a sorte apodrecida. 
Dentro da roda da vida 
sinto roer os fusanos
Lembranças da minha vida 
perdem-se em nuvens de pó. 
Bem me chamam Pedro Só, 
(nome de roda partida) [bis]


(Fernando Assis Pacheco – 1937-1995)




Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco (Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937 — Lisboa, 30 de Novembro de 1995) foi um jornalista, crítico , tradutor e escritor português.

Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, viveu nesta cidade até iniciar o serviço militar, em 1961. Filho de pai médico e de mãe doméstica, era seu avô materno galego (e casado com uma lavradeira da Bairrada) e seu avô paterno roceiro em São Tomé.

Enquanto jovem, foi actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos.

Cumpriu parte do serviço militar em Portugal entre 1961 e 1963, tendo seguido como expedicionário para Angola, onde esteve até 1965. Inicialmente integrado num batalhão de cavalaria, viria a ser reciclado nos serviços auxiliares e colocado no Quartel-General da Região Militar de Angola.

Publicou a primeira obra em Coimbra, com o patrocínio paterno, não obstante se encontrar, na altura, em África. Cuidar dos Vivos é o título do livro de estreia - poemas de protesto político e cívico, com afloramento dos temas da morte e do amor. Em apêndice, dois poemas sobre a guerra em Angola, que terão sido dos primeiros publicados sobre este conflito. O tema da guerra em África voltaria a impor-se em Câu Kiên: Um Resumo (1972), ainda que sob "camuflagem vietnamita", livro que em 1976 conheceria a sua versão definitiva: Katalabanza, Kilolo e Volta.

Memória do Contencioso (1980) reúne "folhetos" publicados entre 1972 e 1980, e Variações em Sousa (1987) constitui um regresso aos temas da infância e da adolescência, com Coimbra como cenário, e refinando uma veia jocosa e satírica já visível nos poemas inaugurais. A novela Walt (1978) comprova-o exuberantemente. Era notável em Assis Pacheco a sua larga cultura galega, aliás sobejamente explanada em alguns dos seus textos jornalísticos e no seu livro Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Em A Musa Irregular (1991) reuniu toda a sua produção poética.

Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, na República, no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi director-adjunto. Foi também redactor e chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária, e colaborador da RTP.

Traduziu para português obras de Pablo Neruda e Gabriel García Márquez.

Casou a 4 de Fevereiro de 1963 com Maria do Rosário Pinto de Ruella Ramos (27 de Julho de 1941), filha de João Pedro de Ruella de Almeida Ramos e de sua mulher Germana Marques Vieira Pinto, de quem teve cinco filhas e um filho.


Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre


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