FALA DO HOMEM NASCIDO
(Chega à boca da cena, e diz:)
Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
(António Gedeão –
1906-1997)
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de
Novembro de 1906
— Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997), português, foi
um químico, professor de
físico-química do ensino secundário no Liceu
Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência,
e poeta sob
o pseudónimo de António
Gedeão. Pedra Filosofal e Lágrima de
Preta são dois dos seus mais célebres poemas.
Académico efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e
Director do Museu Maynense da
Academia das Ciências de Lisboa.
A data do seu nascimento foi adoptada em Portugal, em 1996,
como Dia Nacional da Cultura Científica.
Teve dois filhos, Frederico de Carvalho, também formado em
Ciências, e Cristina Carvalho, escritora (esta última do seu
segundo matrimónio, com a escritora Natália
Nunes).
Jaz no Jazigo dos Escritores Portugueses, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, junto com
vultos notáveis das letras portuguesas como José Cardoso Pires ou Fernando
Namora.
Fonte: Wikipédia –
A enciclopédia livre
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