As pessoas sensíveis
As pessoas
sensíveis não são capazes
De matar
galinhas
Porém são
capazes
De comer
galinhas
O dinheiro
cheira a pobre e cheira
À roupa do
seu corpo
Aquela roupa
Que depois da
chuva secou sobre o corpo
Porque não
tinham outra
O dinheiro
cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do
suor não foi lavada
Porque não
tinham outra
"Ganharás
o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi
imposto
E não:
"Com o
suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões
do templo
Ó
constructores
Das grandes
estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de
devoção e de proveito
Perdoai-lhes
Senhor
Porque eles
sabem o que fazem.
(Sophia
de Mello Breyner Andresen – 1919-2004)
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a
primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Sophia de
Mello Breyner Andresen é filha de Maria Amélia de Mello Breyner e de João
Henrique Andresen. Tem origem dinamarquesa pelo lado paterno. O seu bisavô, Jan Heinrich
Andresen, desembarcou um dia no Porto e nunca mais abandonou esta região, tendo o
seu filho João Henrique comprado, em 1895, a
Quinta do Campo Alegre, hoje Jardim Botânico do Porto. Como
afirmou em entrevista, em 1993, essa
quinta "foi um território fabuloso com uma grande e rica família servida
por uma criadagem numerosa". A mãe, Maria Amélia de Mello Breyner, é filha
do conde de Mafra, médico e amigo do rei D.Carlos.
Maria Amélia é também neta do conde Henrique
de Burnay, um dos homens mais ricos do seu tempo.
Criada na
velha aristocracia portuguesa, educada nos valores tradicionais da moral
cristã, foi dirigente de movimentos universitários católicos quando frequentava Filologia Clássica na Universidade de Lisboa (1936-39) que nunca chegou a
concluir. Colaborou na revista Cadernos de Poesia, onde
fez amizades com autores influentes e reconhecidos: Ruy
Cinatti e Jorge
de Sena. Veio a tornar-se uma das figuras mais
representativas de uma atitude política liberal, apoiando o movimento
monárquico e denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Ficou célebre como canção de intervenção dos Católicos Progressistas a sua
"Cantata da Paz", também conhecida e chamada pelo seu refrão:
"Vemos, Ouvimos e Lemos. Não podemos ignorar!"
Casou-se,
em 1946, com o
jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares e foi mãe de cinco filhos: uma professora
universitária de Letras, um
jornalista e escritor de renome (Miguel Sousa Tavares), um pintor e ceramista e mais
uma filha que é terapeuta ocupacional e herdou o nome da mãe. Os filhos
motivaram-na a escrever contos infantis.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de
Escritores pelo seu
livro Livro sexto. Já
depois da Revolução de 25 de Abril, foi
eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo
do Porto numa
lista do Partido Socialista,
enquanto o seu marido navegava rumo ao Partido Social Democrata.
Distinguiu-se
também como contista (Contos
Exemplares) e autora de livros infantis (A
Menina do Mar, O Cavaleiro da Dinamarca, A
Floresta, O Rapaz
de Bronze, A Fada
Oriana, etc.). Foi também tradutora de Dante
Alighieri e de Shakespeare e membro da Academia das Ciências de Lisboa. Para
além do Prémio Camões, foi também distinguida com o Prémio Rainha Sofia, em 2003.
Sophia de
Mello Breyner Andresen faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de Julho de 2004 no Hospital da Cruz
Vermelha. O seu corpo encontra-se no Cemitério de Carnide. Em
2014, a Assembleia da Repúblicadecidiu homenagear por
unanimidade a poetisa com honras de Panteão, devendo o seu corpo ser para a Igreja de Santa Engrácia.
Desde
2005, no Oceanário de Lisboa, os seus poemas com ligação
forte ao Mar foram colocados para leitura permanente nas zonas de descanso da
exposição, permitindo aos visitantes absorverem a força da sua escrita enquanto
estão imersos numa visão de fundo do mar.
Fonte: Wikipédia –
A enciclopédia livre
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