sábado, 25 de abril de 2015

Poesia de … Ary dos Santos


Imagem do Blogue “Biblioteca da Nazaré



AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.

E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praça
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.

Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra

Foi esta força viril
de antes quebrar que torce
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Avis
o povo de Portuga
deu o poder a quem quis

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.

Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.

Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão fria
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrio
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo

Ali dissemos não passa!

E a reacção não passou

Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões

Desde esse dia em que todo
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodo
— cumpriu-se a revolução

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cassetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.

Com generais desta apanha
já não há revoluções

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal

Os tais homens que sentiram
que um animal raciona
opõe àqueles que o firam
consciência nacional

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver

Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.

Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.

Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.

Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!

Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu





José Carlos Pereira Ary dos Santos (Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — Lisboa, 18 de Janeiro de 1984) foi um poeta e declamador português.

Ficou na História da música portuguesa por ter escrito poemas de 4 canções participantes no Festival Eurovisão da Canção: Desfolhada Portuguesa (1969), com interpretação de Simone de Oliveira, Menina do Alto da Serra (1971), interpretada por Tonicha, Tourada (1973), interpretada por Fernando Tordo e Portugal no Coração (1977), interpretada pelo grupo Os Amigos.

Proveniente de uma família da alta burguesia, com antepassados aristocratas, era filho do médico Carlos Ary dos Santos (1905-1957) e de Maria Bárbara de Miranda e Castro Pereira da Silva (1899-1950).

Estudou no Colégio de São João de Brito, em Lisboa, onde foi um dos primeiros alunos. Após a morte da mãe, vê publicados, pela mão de vários familiares, alguns dos seus poemas. Tinha catorze anos e viria, mais tarde, a rejeitar esse livro. Ary dos Santos revelaria, verdadeiramente, as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. Várias poesias suas integraram então a Antologia do Prémio Almeida Garrett.

Pela mesma altura, Ary, incompatibilizado com o pai, abandona a casa da família. Para seu sustento económico exerce as mais variadas actividades, que passariam pela venda de máquinas para pastilhas elásticas, até ao trabalho numa empresa de publicidade. Não cessa de escrever e, entretanto, dá-se a sua estreia literária efetiva, com a publicação de A Liturgia do Sangue(1963). Em 1969 adere ao Partido Comunista Português, com qual participa activamente nas sessões de poesia do então intitulado Canto Livre Perseguido.

Através da música chegará ao grande público, concorrendo, por mais que uma vez, ao Festival RTP da Canção, sob pseudónimo, como exigia o regulamento. Classificar-se-ia em primeiro lugar com as canções Desfolhada Portuguesa (1969), com interpretação de Simone de Oliveira, Menina do Alto da Serra (1971), interpretada por Tonicha, Tourada (1973), interpretada por Fernando Tordo e Portugal no Coração (1977), interpretada pelo grupo Os Amigos.

Com Fernando Tordo escreve mais de 100 poemas para canções do músico e o duo Tordo/Ary continua a ser, até hoje, um dos mais profícuos da História da Música Portuguesa. São de suas autorias canções intemporais como Tourada, Estrela da Tarde, Cavalo à Solta, Lisboa Menina e Moça, O amigo que eu canto, Café, Dizer Que Sim à Vida e Rock Chock. Estas canções foram interpretadas por cantores como Fernando Tordo, Carlos do Carmo, Mariza, Amália Rodrigues, Mafalda Arnauth e Paulo de Carvalho.

Após o 25 de Abril, torna-se um activo dinamizador cultural da esquerda, percorrendo o país de lés a lés. No Verão Quente de 1975, juntamente com militantes da UDP e de outras forças radicais, envolve-se no assalto à Embaixada de Espanha, em Lisboa.

Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes. Notabilizou-se também como declamador, tendo gravado um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira. À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia ser uma autobiografia romanceada

Homem de forte personalidade e de apetites excessivos, grande fumador e bebedor, acabaria por adoecer de cirrose, vindo a morrer a 18 de Janeirode 1984. O seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na fachada da sua casa, na Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida. Ainda em 1984 foi lançada a obra VIII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro. Em 1988, Fernando Tordo editou o disco O Menino Ary dos Santos, com os poemas escritos por Ary dos Santos na sua infância. Em 2009, Mafalda Arnauth, Susana Félix, Viviane e Luanda Cozetti dão voz ao álbum de tributo Rua da Saudade - canções de Ary dos Santos.

Hoje, o poeta do povo é reconhecido por todos e todos conhecem José Carlos Ary dos Santos, pois a sua obra permanece na memória de todos e, estranhamente, muitos dos seus poemas continuam actualizados. Todos os grandes cantores o interpretaram e ainda hoje surgem boas vozes a cantá-lo na perfeição. Desde Fernando Tordo, Simone de Oliveira, Tonicha, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Amália Rodrigues, Maria Armanda, Teresa Silva Carvalho, Vasco Rafael, entre outros, até aos mais recentes como Susana Félix, Viviane, Mário Barradas, Vanessa Silva e Katia Guerreiro.

A 4 de Outubro de 2004 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique a título póstumo.


Bibliografia

  • 1953 - Asas
  • 1963 - A Liturgia do Sangue
  • 1964 - Tempo da Lenda das Amendoeiras
  • 1965 - Adereços, Endereços
  • 1968 - Insofrimento In Sofrimento
  • 1970 - Fotos-grafias
  • 1970 - Ary por Si Próprio
  • 1973 - Resumo
  • 1974 - Poesia Política
  • 1975 - Lllanto para Alfonso Sastre y Todos
  • 1975 - As Portas que Abril Abriu
  • 1977 - Bandeira Comunista
  • 1979 - Ary por Ary
  • 1979 - O Sangue das Palavras
  • 1980 - Ary 80
  • 1983 - Vinte Anos de Poesia
  • 1984 - As Palavras das Cantigas
  • 1984 - Estrada da Luz
  • 1984 - Rua da Saudade




Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre

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