Grândola Vila Morena
Grândola,
vila morena
Terra da
fraternidade
O povo é quem
mais ordena
Dentro de ti,
ó cidade
Dentro de ti,
ó cidade
O povo é quem
mais ordena
Terra da
fraternidade
Grândola,
vila morena
Em cada
esquina, um amigo
Em cada
rosto, igualdade
Grândola,
vila morena
Terra da
fraternidade
Terra da
fraternidade
Grândola,
vila morena
Em cada
rosto, igualdade
O povo é quem
mais ordena
À sombra duma
azinheira
Que já não
sabia a idade
Jurei ter por
companheira
Grândola, a
tua vontade
Grândola a
tua vontade
Jurei ter por
companheira
À sombra duma
azinheira
Que já não
sabia a idade
José Manuel
Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto
de 1929 — Setúbal, 23
de Fevereiro de 1987),
foi um cantor e compositor português.
É também conhecido pelo diminutivo familiar de Zeca Afonso, apesar de nunca ter utilizado este nome artístico.
Vida pessoal e formação
Nasceu no dia 2 de Agosto de 1929, na Freguesia
de Glória, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso dos Santos, juiz, natural do Fundão, e de sua mulher Maria das Dores
Dantas Cerqueira, Professora, de Ponte
de Lima. Viveu naquela localidade até aos três anos, numa casa do
Largo das Cinco Bicas, com a tia Gé e o tio Chico, bem como com seu irmão João
Cerqueira Afonso dos Santos (1927), Advogado, pai
de dois dos seus sobrinhos. Com aquela idade foi levado para Angola, onde o pai
havia sido colocado como delegado do Procurador da República, em 1930, e onde nasceria
em Silva Porto a sua irmã Maria Cerqueira
Afonso dos Santos, mãe de seus sobrinhos, também músicos, João
Afonso Lima e António Afonso Lima.
A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda
ligação ao continente africano, que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas,
as florestas e os grandes rios atravessados em jangadas escondiam-lhe a realidade
colonial.
Em 1937 regressa a Aveiro, mas parte
no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e os irmãos
em Lourenço
Marques.
No ano seguinte, volta para Portugal, indo
viver em Belmonte , com o tio Filomeno, que ocupava
o cargo de presidente da Câmara. Completa a instrução primária nesta
localidade, e convive com o mais profundo ambiente do Salazarismo,
de que seu tio era fervoroso admirador, sendo obrigado a envergar o traje
da Mocidade Portuguesa.
Em 1939 os seus pais foram viver para Timor, onde seriam
cativos dos ocupantes japoneses durante três anos, entre 1942 e 1945. Durante esse
período, Zeca Afonso não teve notícias dos pais.
Frequentou o Liceu Nacional D. João III e
a Faculdade de Letras de
Coimbra, e integrou o Orfeão Académico de Coimbra e
a Tuna Académica da
Universidade de Coimbra; já nesta altura, revelou-se um intérprete
especialmente dotado no Fado
de Coimbra, tendo assimilado o ambiente de mudança que, naquela altura, se
estava a começar a manifestar naquela localidade.
Em 1948 completa o Curso Geral dos Liceus, após dois chumbos.
Conhece Maria Amália de Oliveira, uma costureira de origem
humilde, com quem vem a casar em segredo, por oposição da família. Continua na
vida associativa, fazendo viagens com o Orfeão Académico de Coimbra e com
a Tuna Académica da
Universidade de Coimbra2 ,
ao mesmo tempo que integra a equipa de futebol da Académica. Em 1949 inscreve-se
no curso de Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Volta a Angola e Moçambique,
integrado numa comitiva do Orfeon
Académico de Coimbra.
Faleceu em 23
de Fevereiro de 1987 , no Hospital de Setúbal, às
três horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Carreira profissional, artística e política
Do início da carreira docente até à Década de 1960
Em Janeiro de 1953 nasce-lhe o
primeiro filho, José Manuel. Para sustentar a sua família, Zeca Afonso dá
explicações e faz revisão de textos no Diário de Coimbra. Pela mesma altura grava o seu
primeiro disco, Fados de Coimbra. Tem
grandes dificuldades económicas, como refere em carta enviada aos pais em Moçambique.
Ainda antes de terminar o curso, é lhe permitido leccionar no Ensino Técnico.
Cumpriu, de 1953 a 1955, em Mafra e Coimbra, o Serviço Militar Obrigatório; pouco
depois, começa a leccionar, passando, sucessivamente, por Mangualde, Alcobaça, Aljustrel, Lagos,
eFaro.2 Iniciou
as suas funções como professor em Lagos no dia 29 de
Outubro de 1957, na Escola Comercial e Industrial Vitorino Damásio.
Em 1956 é colocado em Aljustrel e
divorcia-se de Maria Amália. Em 1958 envia os filhos para Moçambique,
que ficam ao cuidado dos avós. Entre 1958 e 1959 é professor
de Francês e de História, na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.
Apesar das exigências da sua profissão, não esqueceu as suas
ligações a Coimbra,
onde gravou o seu primeiro disco, em 1958. Foi
influenciado pelas correntes de mudança que se faziam sentir naquela
localidade, e pelo convívio com figuras como António Portugal, Flávio Rodrigues da Silva, Manuel
Alegre, Louzâ Henriques, e Adriano Correia de Oliveira, que marcou
especialmente a sua obra Coimbrã.
Do período de intervenção social até à expulsão do
ensino
Participa, frequentemente em festas populares e canta em
colectividades, lançando, em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue
atentamente a crise académica de Lisboa, convive, em Faro, com Luiza
Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa. Começa a namorar com Zélia,
natural da Fuzeta,
com quem virá a casar. Segue-se uma nova digressão em Angola, com a Tuna Académica da Universidade
de Coimbra, no mesmo ano em que vê editado o álbum Coimbra Orfeon of
Portugal. Nesse disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras
de Coimbra,
fazendo-se acompanhar, nas canções Minha Mãe e Balada Aleixo,
pelas violas de José Niza e Durval Moreirinhas.
Em 1963 termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas,
com uma tese sobre Jean-Paul Sartre, intitulada Implicações
substancialistas na filosofia sartriana.
No mesmo ano são editados os primeiros temas de carácter
vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro
Negro — o primeiro contra a opressão do capitalismo, o segundo, inspirado
na miséria do Bairro do Barredo, no Porto —
integravam o disco Baladas de Coimbra, que
viria a ser proibido pela Censura. Os Vampiros, juntamente
com Trova do Vento que Passa (um poema de Manuel
Alegre, musicado por António Portugal e cantado por Adriano Correia de Oliveira) viriam a
tornar-se símbolos de resistência anti-Salazarista da
época.
Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia,
integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza,
Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda
Amoedo.
Em Maio de 1964 José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade
Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila
Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas no
golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo como uma das
músicas mais significativas do período revolucionário. Ainda naquele ano são
lançados os álbuns Cantares de José Afonso e Baladas e Canções.
Ainda em 1964, José Afonso estabelece-se em Lourenço Marques, com Zélia , reencontrando
os filhos do anterior casamento. Entre 1965 e 1967 é professor
no Liceu Pêro de Anaia, na cidade da Beira, e em Lourenço Marques . Colabora com um grupo de
teatro local, musicando uma peça de Bertolt
Brecht, A Excepção e a Regra. Manifesta-se contra o colonialismo,
o que lhe causa problemas com a PIDE, a polícia política do Estado Novo.
Em Moçambique nasce
a sua filha Joana, em 1965.
Residiu, entre 1964 e 1967, em Moçambique,
acompanhado pelos dois filhos e pela sua companheira, Zélia, tendo ensinado
na Beira, e em Lourenço Marques . Nesta altura, começa a sua
carreira política, em defesa dos ideais de independência, o que lhe valeu a
atenção dos agentes do governo colonial.
Intervenção política até à Revolução de 25 de Abril
Quando regressa a Portugal,
em 1967, é
colocado como professor em Setúbal; no entanto,
fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do ensino oficial,
depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a dar
explicações. A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo da
resistência democrática. Mantém contactos com a Liga de Unidade e Acção
Revolucionária e o Partido Comunista Português —
ainda que se mantenha independente de partidos — e é preso pela PIDE. Continua a cantar
e participa no I Encontro da Chanson Portugaise de Combat, em Paris, em 1969. Grava
também Cantares do Andarilho, recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo
Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor Interpretação. Para que o seu nome
não seja censurado, Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj
Osnofa.
Em 1971 edita Cantigas
do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Zeca participa em
vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o
LP Eu vou ser como a toupeira. Em 1973 canta no III
Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum Venham
mais Cinco. Ao mesmo tempo, começa a dedicar-se ao canto, e apoia várias instituições
populares, enquanto que continua a sua carreira política na Liga de Unidade e Acção Revolucionária.
Entre abril e maio de 1973 esteve detido no Forte-prisão de Caxias pela PIDE/DGS.
Período após a Revolução dos Cravos
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974,
acentua a sua defesa da liberdade, tendo realizado várias sessões de apoio a
diversos movimentos, em Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua
função de professor. Continuou a cantar, gravando o LP Coro dos Tribunais, ao mesmo tempo que se
envolve em numerosas sessões do Canto Livre Perseguido, bem como nas
campanhas de alfabetização do MFA. A sua intervenção política não
pára, tornando-se um admirador do período do PREC. Em 1976 declara o seu
apoio à campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho.
Os seus últimos espectáculos terão lugar nos coliseus
de Lisboa e do Porto,
em 1983, numa
fase avançada da sua doença. No final
desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da
Liberdade, mas o cantor recusa a
distinção.
Em 1985, é editado o seu último álbum de originais, Galinhas
do Mato, no qual, devido estado da doença, Zeca não consegue interpretar
todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser completado por José Mário Branco, Sérgio
Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís
Represas. Em 1986 apoia
a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo a Presidente da República.
Prémios e homenagens
Foi laureado pela Casa da Imprensa, como o melhor compositor
e intérprete de música ligeira, nos anos de 1969, 1970 e 1971.
Foi, igualmente, homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, que colocou o
seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.
Foi igualmente homenageado pela Câmara Municipal do Porto, que colocou o
seu nome em Rua que faz a ligação entre a Rua António Cândido e a Rua da
Constituição.
Foi homenageado pela Câmara Municipal da Moita, freguesia de
Alhos Vedros abrindo uma escola com o seu nome.
Em 2007, foi homenageado na IX Grande Noite do Fado
Académico, na Casa
da Música (Porto), numa organização do Grupo de Fados do ISEP e da Associação
de Estudantes do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto).
Legado
Oriundo do fado de
Coimbra, foi uma figura central do movimento de renovação da música
portuguesa que se desenvolveu na década de 1960 do século XX e se prolongou na
década de 70, sendo dele originárias as famosas canções de intervenção, de
conteúdo de esquerda, contra o Regime. Zeca Afonso ficou indelevelmente
associado ao derrube do Estado Novo, regime de ditadura Salazarista
vigente em Portugal entre 1933 e 1974, uma vez que uma das suas composições, "Grândola, Vila Morena", foi
utilizada como senha pelo Movimento das Forças Armadas (MFA),
comandados pelos Capitães de Abril, que instaurou a democracia,
em 25
de Abril de 1974.
Em 1994 seria editado Filhos da Madrugada Cantam José Afonso ,
um CD duplo em homenagem a Zeca Afonso. No final de Junho seguinte, muitas das
bandas portuguesas que integraram o projecto, participaram num concerto que
teve lugar no então Estádio José de Alvalade.
Em 24 de Abril de 1994 a CeDeCe estreia
no Teatro S. Luiz o bailado Dançar Zeca
Afonso, com música de Zeca Afonso e coreografia de António Rodrigues, uma encomenda
do Município, a propósito da Capital Europeia da Cultura.
Muitas das suas canções continuam a ser gravadas por
numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam
actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma
centena de intérpretes, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores
portugueses mais divulgados a nível mundial. O seu trabalho é reconhecido e
apreciado pelo país inteiro e Zeca Afonso, com a sua incidência política que as
suas canções ganharam, indiscutivelmente representa uma parte muito importante
da cultura poética portuguesa.
Discografia
Álbuns de estúdio
- Baladas e canções (1964)
- Cantares de andarilho (1968)
- Contos velhos rumos novos (1969)
- Traz outro amigo também (1970)
- Cantigas do Maio (1971)
- Eu vou ser como a toupeira (1972)
- Venham mais cinco (1973)
- Coro dos tribunais (1974)
- Com as minhas tamanquinhas (1976)
- Enquanto há força (1978)
- Fura fura (1979)
- Fados de Coimbra e Outras Canções (1981)
- Como se fora seu filho (1983)
- Galinhas do mato (1985)
Álbuns ao Vivo
- José Afonso in Hamburg (1982)
- Ao vivo no Coliseu (1983, álbum duplo)
Bibliografia activa
- Cantares (1968)
- Cantar de Novo (1969)
- Quadras Populares (1980)
- Textos e Canções (1986)
Bibliografia passiva
- José Afonso - por José Viale Moutinho (1972, ed. espanhola 1975)
- Zeca Afonso: As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1983)
- Livra-te do Medo - Histórias e Andanças do Zeca Afonso - por José António Salvador (1984, reeditado, em versão revista e aumentada, em 2014)
- Zeca Afonso - Poeta, Andarilho e Cantor - edição Associação José Afonso (1994)
- José Afonso - O Rosto da Utopia - por José António Salvador (1994)
- José Afonso, Poeta - por Elfriede Engelmeyer (1999)
- As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1999, ed. aumentada; 2009, reedição actualizada)
- Zeca Afonso antes do mito - por António dos Santos e Silva (2000)
- José Afonso - Um olhar fraterno - por João Afonso dos Santos (2002)
- José Afonso - Todas as Canções - por Guilhermino Monteiro, João Lóio, José Mário Branco e Octávio Fonseca (2010), Assírio & Alvim - ISBN 9789723715675
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
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