Já não quer minha senhora
Já não quer
minha senhora
que lhe fale
em apartado:
Oh, que mal
tão alongado!
Minha senhora
me disse
que me quer
falar um dia;
agora, por
meu pecado,
disse-me que
não podia.
Oh, que mal
tão alongado!
Minha senhora
me disse
que me queria
falar;
agora, por
meu pecado,
não me quer
ver nem olhar.
Oh, que mal
tão alongado!
Agora, por
meu pecado,
disse-me que
não podia.
Ir-me-ei
triste pelo mundo
onde me levar
a dita.
Oh, que mal
tão alongado!
(Gil Vicente –
1465-1537)
“Gil Vicente (c. 1465 — c. 1536?) é geralmente considerado o
primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Enquanto homem
de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e
encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro
português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano -
partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de
Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel.
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e
da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma
época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis,
para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao
questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista
portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita
que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.”
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
Uma das obras literárias mais conhecidas de Gil Vicente é
o “Auto da Barca do Inferno”.
“O Auto da Barca do Inferno é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente,
representada pela primeira vez em 1517. É a primeira
parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são
respectivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).
Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que
muitas vezes se aproxime da farsa. Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das
décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos que cobre sejam
pertinentes na actualidade.
Diz-se "Barca do Inferno", porque quase todos
os candidatos às duas barcas em cena – a do Inferno, com o
seu Diabo, e
a da Glória,
com o Anjo –
seguem na primeira. De facto, contudo, ela é muito mais o auto do julgamento
das almas.”
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
O Grupo de Teatro Lethes (designação de um mítico rio, cujas
águas tinham o poder mágico de apagar da lembrança das almas os reveses e as
agruras da vida) representou no Teatro do mesmo nome, localizado em Faro, o
AUTO DA BARCA DO INFERNO
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