Que venham mais cinco!
“José Afonso morreu no dia 23 de
Fevereiro de 1987, (faz
precisamente hoje 27 anos) no Hospital de
Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica,
diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil
pessoas (entre as quais me
encontrava), da Escola Secundária de S. Julião
para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada
às 17h30 na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a
percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo,
como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio
Pereira, José Mário Branco, Luís Cília, Francisco Fanhais. A Transmédia editou
o triplo álbum, o primeiro da história discográfica portuguesa, Agora e Sempre,
duas semanas depois da morte do cantor. O triplo disco é constituído pelos
álbuns Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985) e por um
alinhamento diferente de Ao Vivo no Coliseu (1983). A 18 de Novembro é criada a
Associação José Afonso com o objectivo de ajudar a realizar as ideias do
compositor e intérprete no campo das Artes.”
Fonte: Associação José Afonso
Se tem dúvidas ou gostaria de conhecer mais sobre a vida e
obra deste cidadão português que contribuiu decisivamente para alterar o
panorama musical em Portugal, sem que soubesse ler e escrever música, aceda ao
Portal da “Associação José Afonso”. Neste Portal
encontrará informação, em discurso direto, designadamente e a título de
curiosidade, sobre “Grândola Vila Morena” (ver AQUI)
A CONSCIÊNCIA DOS NOSSOS DIREITOS
(Também na luta contra a discriminação negativa das
autocaravanas)
(Discurso de abertura
do Concerto na Aula Magna de Tributo a José Afonso, pelo Professor Doutor
António Sampaio da Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa.
Lisboa, 20 Junho 2013)
Fonte: AJA
“Não tencionava falar-vos.
Apenas receber-vos nesta Aula Magna, junto com o Zeca.
Mas o Francisco Fanhais disse-me
que tinha de vos dirigir duas palavras. Estas palavras foram-me oferecidas
durante o dia.
De manhã, quando vinha para a
Reitoria, o meu pai chamou-me a atenção para o facto de que, neste mesmo ano de
1963, tinha sido publicada a Pacem in Terris. E que nela se escrevia:
Quando alguém toma consciência dos seus direitos, assume
também uma responsabilidade: o dever, a obrigação, de lutar por esses direitos.
Por si e pelos outros.
E aqui estava o Zeca. Claro e límpido nesta frase.
Autêntico, generoso, a lutar por direitos inalienáveis (irrevogáveis.., acho
que irrevogáveis não se pode dizer!), a lutar pela liberdade, uma liberdade que
não existe sem direitos.
E depois, durante a tarde,
alguém deixou na Reitoria, em meu nome, um ramo de cravos vermelhos, apenas com
uma palavra: Obrigado. Estes cravos vermelhos que berram em violenta beleza
(Clarice Lispector).
Sei que eram para o Zeca. Para o
seu sonho, para a forma como lutou e como nos fez lutar pela liberdade.
E lembrei-me que, nesse mesmo
ano de 1963, quando o Zeca denunciava os vampiros, também Martin Luther King o
fazia, do mesmo modo, ainda que do outro lado do Atlântico, deixando-nos a
todos o seu sonho.
É assim com o Zeca. Há sempre
outro amigo também. Pode ser uma pessoa, pode ser uma ideia, pode ser um
combate, sempre pela liberdade, sempre pela justiça social.
Calados e quietos é que não!
Conformados é que não!
Já nos livramos do medo e hoje
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
E agora que
Venha a maré cheia, Duma ideia,
Pra nos empurrar
Que venha um pensamento, P’ra
nos despertar
O Zeca está em nós, está
connosco, com os seus sonhos, as suas denúncias, a sua imensa autenticidade, a
sua imensa generosidade.
Que venham mais cinco!
Zeca, somos nós os teus
cantores.”
(Sublinhados meus)
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