domingo, 23 de fevereiro de 2014

Que venham mais cinco!



Que venham mais cinco!


José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, (faz precisamente hoje 27 anos) no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil pessoas (entre as quais me encontrava), da Escola Secundária de S. Julião para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada às 17h30 na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Luís Cília, Francisco Fanhais. A Transmédia editou o triplo álbum, o primeiro da história discográfica portuguesa, Agora e Sempre, duas semanas depois da morte do cantor. O triplo disco é constituído pelos álbuns Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985) e por um alinhamento diferente de Ao Vivo no Coliseu (1983). A 18 de Novembro é criada a Associação José Afonso com o objectivo de ajudar a realizar as ideias do compositor e intérprete no campo das Artes.

Se tem dúvidas ou gostaria de conhecer mais sobre a vida e obra deste cidadão português que contribuiu decisivamente para alterar o panorama musical em Portugal, sem que soubesse ler e escrever música, aceda ao Portal da “Associação José Afonso”. Neste Portal encontrará informação, em discurso direto, designadamente e a título de curiosidade, sobre “Grândola Vila Morena” (ver AQUI)


A CONSCIÊNCIA DOS NOSSOS DIREITOS
(Também na luta contra a discriminação negativa das autocaravanas)

(Discurso de abertura do Concerto na Aula Magna de Tributo a José Afonso, pelo Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa.

Lisboa, 20 Junho 2013)
Fonte: AJA

Não tencionava falar-vos. Apenas receber-vos nesta Aula Magna, junto com o Zeca.

Mas o Francisco Fanhais disse-me que tinha de vos dirigir duas palavras. Estas palavras foram-me oferecidas durante o dia.

De manhã, quando vinha para a Reitoria, o meu pai chamou-me a atenção para o facto de que, neste mesmo ano de 1963, tinha sido publicada a Pacem in Terris. E que nela se escrevia:

Quando alguém toma consciência dos seus direitos, assume também uma responsabilidade: o dever, a obrigação, de lutar por esses direitos. Por si e pelos outros.

E aqui estava o Zeca. Claro e límpido nesta frase. Autêntico, generoso, a lutar por direitos inalienáveis (irrevogáveis.., acho que irrevogáveis não se pode dizer!), a lutar pela liberdade, uma liberdade que não existe sem direitos.

E depois, durante a tarde, alguém deixou na Reitoria, em meu nome, um ramo de cravos vermelhos, apenas com uma palavra: Obrigado. Estes cravos vermelhos que berram em violenta beleza (Clarice Lispector).

Sei que eram para o Zeca. Para o seu sonho, para a forma como lutou e como nos fez lutar pela liberdade.

E lembrei-me que, nesse mesmo ano de 1963, quando o Zeca denunciava os vampiros, também Martin Luther King o fazia, do mesmo modo, ainda que do outro lado do Atlântico, deixando-nos a todos o seu sonho.

É assim com o Zeca. Há sempre outro amigo também. Pode ser uma pessoa, pode ser uma ideia, pode ser um combate, sempre pela liberdade, sempre pela justiça social.

Calados e quietos é que não!
Conformados é que não!

Já nos livramos do medo e hoje
Somos nós os teus cantores

Da matinal canção

E agora que

Venha a maré cheia, Duma ideia, Pra nos empurrar
Que venha um pensamento, P’ra nos despertar

O Zeca está em nós, está connosco, com os seus sonhos, as suas denúncias, a sua imensa autenticidade, a sua imensa generosidade.

Que venham mais cinco!

Zeca, somos nós os teus cantores.
(Sublinhados meus)


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