O sol é grande, caem co'a
calma as aves
O sol é grande, caem co’a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d’alto cai acordar-m’-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d’amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
Também mudando-m’eu fiz doutras cores:
E tudo o mais renova, isto é sem cura!
(Sá de Miranda
– 1481-1558)
Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, a 28 de agosto de 1481 — Amares, 15 de Março de 1558 (76 anos))
foi um poeta português.
Francisco de Sá de Miranda nasceu em Coimbra:/da antiga e
nobre cidade som natural, som amigo/, em 28 de Agosto de 1481 (data em que D. João
II subiu ao trono, dizem os biógrafos). Era filho de Gonçalo Mendes,
cónego da Sé de Coimbra e de Inês de Melo, solteira, nobre, e neto paterno de
João Gonçalves de Crescente, cavaleiro fidalgo, e de sua mulher Filipa de Sá
que viveram em S. Salvador do Campo (Barcelos) e em
Coimbra, no episcopado de D. João Galvão.
Nada se sabe da vida de Sá de Miranda nos seus primeiros
anos. Meras hipóteses, mais ou menos aceitáveis, nos indicam o caminho que
seguira, desde o seu berço em Coimbra até à Universidade em Lisboa.
Foi nas Escolas Gerais que Sá de Miranda conheceu Bernardim
Ribeiro, com quem criou estreitas relações de amizade, lealmente mantidas e
fortalecidas na cultura literária, nos serões poéticos do paço real da Ribeira,
na intimidade, em confidências e na comunhão de alegrias e dissabores.
Estudou Gramática, Retórica e
Humanidades na Escola de Santa Cruz.
Frequentou depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o
curso de Leis alcançando o grau de doutor em Direito, passando
de aluno aplicado a professor considerado e frequentando a Corte até 1521, datando-se de
então a sua amizade com Bernardim Ribeiro, para o Paço, compôs cantigas,
vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
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