O
colchão dentro do toucado
Chaves na
mão, melena desgrenhada,
Batendo o
pé na casa, a Mãe ordena
Que o
furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o
ponha ali ou a criada.
A filha,
moça esbelta e aperaltada
Lhe diz co´a doce voz que o
ar serena:
“Sumiu-se-lhe
um colchão, é forte pena!
Olhe não
fique a casa arruinada …”
“Tu
respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai
embarcado,
Já a mãe
não tem mãos?” E dizendo isto,
Arremete-lhe
á cara e ao penteado.
Eis senão
quando (caso nunca visto)
Sai-lhe o
colchão de dentro do toucado.
(Nicolau Tolentino
- 1741-1811)
Nicolau Tolentino de Almeida (Lisboa, 10 de Setembro de 1740- 23 de Junho de 1811) foi um poeta português.
Pertenceu ao movimento da Nova
Arcádia (1790-1794).
Aos vinte anos ingressou em Leis na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas ao invés dos
estudos tinha vida boêmia e de poeta. No ano de 1765 tornou-se
professor de retórica, numa das cátedras criadas pelo Marquês de Pombal, após a expulsão dos jesuítas.
Seus versos continham sempre pedidos, pleiteando um cargo na
secretaria de estado, até que este foi satisfeito, com a nomeação como oficial
de secretaria.
Foi um professor durante quinze anos, mas esta vida o
desagradava. Inadaptado e descontente até conseguir o posto na Secretaria dos
Negócios do Reino. Obteve tudo quanto pretendeu, o que não o fez deixar de
deplorar uma suposta miséria.
Bom metrificador, compôs sátiras descritivas
e caricaturais, sonetos e odes, que reuniu em 1801 num volume chamado Obras Poéticas.
Ficou na superficie, mas apreendeu bem os erros e ridículos da época. O seu
cômico consistia no agravamento das proporções , hipertrofiando o exagero, que
encontrava.
Usavam-se, então, penteados muito altos, daí o haver
Tolentino informado que lá se podiam esconder os mais variados objetos: Uma
arca, um colchão e até mesmo um homem. Ridiculariza as que se enfeitavam com
vistosas cabeleiras, sem melhorar o juízo; as velhas que recorriam à formosura
postiça; os vadios e ociosos; os maridos que apanhavam da mulher. Disse mal dos
seus professores e até das suas aulas.
Fonte: Wikipédia - A enciclopédia livre
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