segunda-feira, 24 de março de 2014

Poesia de... Nicolau Tolentino




O colchão dentro do toucado


Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a Mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada
Lhe diz co´a doce voz que o ar serena:
“Sumiu-se-lhe um colchão, é forte pena!
Olhe não fique a casa arruinada …”

“Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?” E dizendo isto,

Arremete-lhe á cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

(Nicolau Tolentino - 1741-1811)




Nicolau Tolentino de Almeida (Lisboa, 10 de Setembro de 1740- 23 de Junho de 1811) foi um poeta português. Pertenceu ao movimento da Nova Arcádia (1790-1794).

Aos vinte anos ingressou em Leis na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas ao invés dos estudos tinha vida boêmia e de poeta. No ano de 1765 tornou-se professor de retórica, numa das cátedras criadas pelo Marquês de Pombal, após a expulsão dos jesuítas.

Seus versos continham sempre pedidos, pleiteando um cargo na secretaria de estado, até que este foi satisfeito, com a nomeação como oficial de secretaria.

Foi um professor durante quinze anos, mas esta vida o desagradava. Inadaptado e descontente até conseguir o posto na Secretaria dos Negócios do Reino. Obteve tudo quanto pretendeu, o que não o fez deixar de deplorar uma suposta miséria.

Bom metrificador, compôs sátiras descritivas e caricaturais, sonetos e odes, que reuniu em 1801 num volume chamado Obras Poéticas. Ficou na superficie, mas apreendeu bem os erros e ridículos da época. O seu cômico consistia no agravamento das proporções , hipertrofiando o exagero, que encontrava.


Usavam-se, então, penteados muito altos, daí o haver Tolentino informado que lá se podiam esconder os mais variados objetos: Uma arca, um colchão e até mesmo um homem. Ridiculariza as que se enfeitavam com vistosas cabeleiras, sem melhorar o juízo; as velhas que recorriam à formosura postiça; os vadios e ociosos; os maridos que apanhavam da mulher. Disse mal dos seus professores e até das suas aulas.

Fonte: Wikipédia - A enciclopédia livre

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