A obra Lírica de Camões
A obra lírica de Camões, dispersa em manuscritos, foi
reunida e publicada postumamente em 1595 com o título de Rimas. Ao longo do
século XVII, o crescente prestígio do seu épico contribuiu para elevar ainda
mais o apreço por estas outras poesias. A colectânea compreende redondilhas,
odes, glosas, cantigas, voltas ou variações, sextilhas, sonetos, elegias,
éclogas e outras estâncias pequenas. A sua poesia lírica procede de várias
fontes distintas: os sonetos seguem em geral o estilo italiano derivado de
Petrarca, as canções tomaram o modelo de Petrarca e de Pietro Bembo. Nas
odes verifica-se a influência da poesia trovadoresca de cavalaria e da poesia
clássica, mas com um estilo mais refinado; nas sextilhas aparece clara a
influência provençal; nas redondilhas expandiu a forma, aprofundou o lirismo e
introduziu uma temática, trabalhada em antíteses e paradoxos, desconhecida na
antiga tradição das cantigas de amigo, e as elegias são bastante classicistas.
As suas estâncias seguem um estilo epistolar, com temas moralizantes. A écoglas
são peças perfeitas do género pastoral, derivado de Virgílio e dos italianos. Em
muitos pontos de sua lírica também foi detectada a influência da poesia
espanhola de Garcilaso de la Veja Jorge de Montemor, Juan Boscán, Gregorio
Silvestre e vários outros nomes, conforme apontou seu comentador Faria e Sousa.
Alma minha gentil, que te partiste
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Luís
de Camões – 1524-1580)
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